quarta-feira, 26 de março de 2008

PLATÃO (427-347 a.C.)

Nascido em Atenas, em 427 a.C., Platão pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de ombros largos”.

Platão foi discípulo de Sócrates, a quem considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens”. Depois da morte de seu mestre, empreendeu inúmeras viagens, num período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas. Em 388 visitou a Sicília, então governada por Dionísio, o Antigo, com o propósito de converter este tirano às suas ideias filosóficas. Não tendo êxito nesta primeira investida, regressou a Atenas, em 387 a.C., onde nos jardins de Academo, junto dum templo consagrado às Musas fundou uma escola, denominada, por este fato, Academia.

Ficou em Atenas, cerca de vinte anos, até que em 367, voltou à Sicília, com a idéia de converter o novo monarca - Dionísio, o Moço -, num filósofo-rei. Os resultados não foram brilhantes, o que não o impediu de voltar à ilha em 361, com idênticos propósitos. O resultado desta última viagem foi terrível: suspeito pelas suas ideias políticas, foi perseguido e feito escravo, sendo como tal vendido no mercado de Egina, acabando por ser comprado por um dos seus amigos. Voltou a Atenas onde morreu em 347 a.C., numa altura que a cidade lutava contra Filipe da Macedónia.

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por Platão. Seriam 30 diálogos, dentre os quais os mais conhecidos; Apologia de Sócrates (onde torna público o discurso que Sócrates fez em seu julgamento); Híppias Maior (diálogo sobre - o que é o belo); Eutifron (diálogo sobre - o que é a piedade); Menon (diálogo sobre - o que é a virtude), Teeto (diálogo sobre - o que é a ciência); Fédon (sobre a imortalidade da alma, faz um relato dos últimos dias de Sócrates), Crátilo (explica a relação entre as coisas e os nomes que lhes são dados.), O Banquete (diálogo sobre o amor), Górgias (diálogo sobre a violência, faz a diferença entre a filosofia e a sofística), e o mais importante, A República (um tratado completo, onde expõe um sistema de governo e modo de vida ideais).

TEORIA DO CONHECIMENTO

Segundo Platão, o conhecimento humano está dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso, errôneo. O conhecimento intelectual se dirige às Idéias; o conhecimento sensível, se dirige às aparências, ou sombras.

Através dos diálogos, Platão vai caracterizando as causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de idéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas, escapando á corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o plano mutável dos objetos físicos.

Platão recusou que se pudesse falar num conhecimento baseado no mundo sensível, pois este apenas nos pode dar opiniões mutáveis e ilusórias. Defendeu por isso que o verdadeiro conhecimento estava nas Idéias eternas que existiam num mundo separado das coisas sensíveis. As coisas sensíveis são imitações das Idéias. Sustentou ainda que todos os seres humanos, em graus variáveis, quando nascem já possuem muitas destas Idéias. Neste sentido, conhecer ou aprender é recordar aquilo que está obscurecido na alma.

Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento humano se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das Idéias e essências.

Se quiséssemos resumir a filosofia de Platão em uma palavra, poderíamos dizer que ela é fundamentalmente um dualismo. Ao admitir a existência de dois mundos: o mundo das Idéias imutáveis, eternas, e o mundo das aparências sensíveis, mutáveis; Platão concebe ao mundo sensível uma certa realidade, mas ele só existe porque participa do mundo das idéias do qual é uma cópia, ou, mais exatamente, uma sombra.

A teoria das Idéias de Platão representa a tentativa de conciliar as duas correntes anteriores: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, das Idéias, da essência e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, das aparências e ilusões.

A METAFÍSICA

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das Idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas.

O divino platônico é representado pelo mundo das Idéias e especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. Assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos.

A ALMA

Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em vista dos seus imperativos interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos. Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.

A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo das Idéias: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascível (ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Assim, para Platão, a alma possui três partes: a racional, a irascível e a concupiscível. Naturalmente a alma irascível e a concupiscível são subordinadas à alma racional.

A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido na visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.

Quanto ao destino das almas depois da morte, eis o pensamento de Platão: em geral, o destino da alma depende da sua filosofia, da razão; em especial, depende da religião, e da teoria da reencarnação, que Platão aceita.

A MORAL

Combatendo o relativismo dos valores, defendido pelos sofistas, sustentou que o único dever do homem é procurar o Bem, que identifica com o Belo e o Uno. Para o atingir, a única via possível passa pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais.

Segundo a psicologia platônica, a natureza do homem é racional, e, por conseqüência, na razão realiza o homem a sua humanidade: a ação racional realiza o sumo bem, que é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. Entretanto, esta natureza racional do homem encontra no corpo não um instrumento, mas um obstáculo.

Platão deriva a sua moral da sua teoria das três partes da alma. Assim, para que se realize a sabedoria, a contemplação, a filosofia, a virtude suma, a única virtude verdadeiramente humana e racional, é necessário que a alma racional domine, antes de tudo, a alma concupiscível, derivando daí a virtude da temperança; e domine também a alma irascível, donde a virtude da fortaleza. A harmoniosa distribuição da atividade na alma conforme a razão constituiria, pois, a justiça. Temos, deste modo, uma classificação, uma dedução das famosas quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais - prudência, fortaleza, temperança, justiça - sobre a base da teoria platônica da alma.

COSMOLOGIA

O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos homens, etc.

Para a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.

O MITO DA CAVERNA

Na obra República, Platão revelou o que está em jogo no conhecimento na alegoria da caverna, onde ele mostra a idéia de que conhecer consiste em se liberar das correntes que nos condenam à ignorância e onde ele desvenda que, em última análise, o problema do conhecimento se confunde com o da educação. O homem deve caminhar desde a opinião até à ciência educando-se gradualmente. No mundo sensível, os homens são como escravos presos numa caverna escura e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora. Tomam estas sombras pela realidade, porque não conhecem a realidade verdadeira. De fato, trata-se de operar a passagem do mundo sensível ao mundo inteligível, e esse movimento é um doloroso e difícil movimento de libertação.

Segundo Platão faz parte da educação do filósofo o regresso à caverna, que consiste na reconsideração e na reavaliação do mundo humano à luz do que se viu fora deste mundo. Depois de sair da prisão e da ignorância da caverna, o filósofo, que contemplou o sol e a luz da verdade, deve voltar à caverna, livre e disposto a iluminar e ensinar aos homens o que ele viu e aprendeu.

A POLÍTICA

Na visão platônica a sociedade perfeita seria aquela em que cada classe e cada unidade estivesse fazendo o trabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em que nenhuma classe ou indivíduo iria interferir nos outros, mas todos iriam cooperar na diferença para produzir um todo harmonioso. Este seria um Estado justo.

O fim do Estado é tornar o indivíduo feliz, facilitando-lhe a prática das virtudes. Sua constituição é vazada nos moldes da natureza humana. Platão faz uma analogia entre as três partes da alma: a irascível, a concupiscível e a racional com as três classes sociais. Correspondentes às três partes da alma distinguem-se no Estado três classes sociais: os filósofos (alma racional), os guerreiros (alma irascível); c) os operários (alma concupiscível).

Segundo Platão, o estado ideal deveria ser dividido nestas três classes sociais. Três são, pois, estas classes: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos operários, as quais, no organismo do estado, corresponderiam respectivamente às almas racional, irascível e concupiscível no organismo humano, e às quatro virtudes, prudência, fortaleza, temperança e justiça. À classe dos filósofos cabe dirigir a república; eles exercem a virtude da prudência. À classe dos guerreiros cabe a defesa interna e externa do estado, de conformidade com a ordem estabelecida pelos filósofos; eles exercem a fortaleza. À classe dos operários, enfim, - agricultores e artesãos - submetida às duas precedentes, cabe a conservação econômica do estado, e, consequentemente, também das outras duas classes, inteiramente entregues à conservação moral e física do estado; eles dever exercitar a temperança. A quarta virtude, a justiça deveria harmonizar e equilibrar todas as três classes num todo organizado.

PENSAMENTOS DE PLATÃO

"Conhecimento é o alimento da alma"

"Não importa o que você sabe, mas o que se lembra na ocasião."

"Amor: uma grave doença mental."

"Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo"

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz".

"O honesto se conforma em sonhar com aquilo que o pecador realiza."

"Não há nada mais vergonhoso do que alguém ser honrado pela fama dos antepassados e não pelo merecimento próprio."

"O corpo humano é a carruagem; eu, o homem que a conduz; o pensamento são as rédeas; os sentimentos, os cavalos."

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."

"Todo homem é poeta quando está apaixonado".

"Se Deus é bom, não pode ser o autor de todas as coisas que acontecem ao homem."

"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida."

"A amizade é uma benevolência reciproca entre dois seres igualmente entusiastas um pela felicidade do outro."

"Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado."

"É somente pela filosofia que se pode discernir todas as formas de justiça política e individual"

"Toda forma de delírio vem da alma e é necessário que o homem saiba amar, tendo conhecimento, ao mesmo tempo, da sua alma e da dos outros homens"

"Mau, com efeito, é o amante vulgar que prefere o corpo ao espírito, pois o seu amor não é duradouro por não se dirigir a um objeto que perdure. A flor do corpo que ama vem um dia a murchar - e então ele "se retira ligeiro como as asas" esquecendo-se das declarações e muitas juras que fêz".

"As almas dos homens, antes de terem caido neste sepulcro que é o corpo, conseguiram vislumbrar - umas mais de perto, outras de maneira menos precisa- a Pureza, a Justiça, a Sabedoria. Decaíram, corromperam-se, encheram-se de vícios ao se ligarem com o corpo. Guardam todavia uma tênue recordação do que antes contemplaram e tendem, sempre, para aquela perfeição que um dia contemplaram".

"O livro é um mestre que fala mas que não responde".

"De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar".

"Quando a mente está pensando, está falando consigo mesma".

"A primeira forma de educação é dada sob forma de fábulas, pois o homem é bastante imperfeito para prescindir das mesmas".

"Do mesmo modo que as coisas visíveis são iluminadas pelo sol, as idéias o são por uma Idéia Suprema".

"O amor não é rico nem pobre. Sua situação é sempre intermediária. Com desejo de felicidade, ele é universal e não é próprio apenas do homem. Seu verdadeiro objeto é a conservação e a reprodução da vida e não apenas davida corpórea mas também da vida intelectual".

"O amor é a causa do movimento da natureza".

"A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento".

"A paz do coração é o paraíso dos homens".

"Só pelo amor o homem se realiza plenamente".

"A filosofia é a mais sublime das músicas".

"Os espíritos vulgares não têm destino".

"A pobreza não nasce da diminuição dos haveres, mas da multiplicação dos desejos".

6 comentários:

DoramasxD disse...

Muito bom,parabéns xD

cristiane medina disse...

/Parabéns pelo blog. Conteúdo incrível e de fácil entendimento. Agora que o conheci estarei sempre visitando!!

Unknown disse...

Muito bom, parabéns josemar

Antonio Cícero da Silva(Águia) disse...

Excelente blog... Parabéns, por tão valioso conteúdo... Abraços...

Antonio Cícero da Silva(Águia) disse...

Platão... Um dos maiores pensadores, de todos os tempos...

Anônimo disse...

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