quarta-feira, 26 de março de 2008

HANNAH ARENDT (1906-1975)

Hannah Arendt (Linden, 14 de Outubro de 1906 — Nova Iorque, 4 de Dezembro de 1975) foi uma teórica política alemã, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação. Emigrou para os Estados Unidos durante a ascensão do nazismo na Alemanha e tem como sua magnum opus o livro "Origens do Totalitarismo".

Cientista política e vítima do racismo anti-semita, Hannah Arendt tornou-se um dos grandes nomes do pensamento político contemporâneo por seus estudos sobre os regimes totalitários e sua visão crítica da questão judaica. A liberdade, o abandono das tradições culturais e a administração tecnocrática da sociedade foram alguns de seus temas principais.

BIOGRAFIA

Nascida numa rica e antiga família judia de Linden, Hannover, fez os seus estudos universitários de teologia e filosofia em Königsberg (a cidade natal de Kant, hoje Kaliningrado). Arendt estudou filosofia com Martin Heidegger na Universidade de Marburgo, relacionando-se passional e intelectualmente com ele. Posteriormente Arendt foi estudar em Heidelberg, tendo escrito na respectiva universidade uma tese de doutoramento sobre a experiência do amor na obra de Santo Agostinho, sob a orientação do filósofo existencialista Karl Jaspers. Hannah Arendt doutorou-se em filosofia em 1928, na Universidade de Heidelberg.

A tese foi publicada em 1929. Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha para Paris, onde trabalhou com crianças judias expatriadas e onde conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e místico marxista Walter Benjamin. Em 1940, casou-se com o professor de história da arte Heinrich Bluecher. Foi presa (uma segunda vez) em França conjuntamente com o marido, o operário e "marxista crítico" Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.

Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o "Weekly Aufbau".

Em Nova York foi diretora de pesquisas da Conferência sobre as Relações Judaicas, mas teve que esperar vários anos até retomar o trabalho universitário. Naturalizou-se cidadã americana em 1951, ano em que publicou sua obra mais significativa, Origins of Totalitarianism (Origens do totalitarismo), pela qual tornou-se conhecida e respeitada nos meios intelectuais. Com Eichmann em Jerusalém (1963), suscitou muitas polêmicas ao denunciar o papel das lideranças judaicas no extermínio nazista da segunda guerra mundial.

Em 1963 é contratada como professora da Universidade de Chicago onde ensina até 1967, ano em que se muda para a New School for Social Research, instituição onde se manterá até à sua morte em 1975.

Após vários anos de atividade docente na Universidade de Chicago e na New School for Social Research, em Nova York, Hannah Arendt morreu nessa cidade em 4 de dezembro de 1975. Hannah Arendt está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson, Nova Iorque.
O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.

LIVROS

O primeiro livro "As origens do totalitarismo" (1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polémica o nazismo e o comunismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas. Sete anos depois publica "A condição humana" e enfatiza a importância da política como acção e como processo, dirigida à conquista da liberdade. Publica depois "Sobre a Revolução" (1963), talvez o seu maior tributo para o pensamento liberal contemporâneo, e examina a revolução francesa e a revolução americana, mostrando o que têm de comum e de diferente, e defendendo que a preservação da liberdade só é possível se as instituições pós-revolucionárias interiorizarem e mantiverem vivas as idéias revolucionárias. Lembraria os seus concidadãos americanos (entretanto adquiriria a nacionalidade americana) que se se distanciassem dos ideais que tinham inspirado a revolução americana perderiam o seu sentido de pertencer e identidade.

Ainda, em 1963, escreveria "Eichmann em Jerusalém" a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquiteto da Solução Final para a The New Yorker. Nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade (como o criam os activistas judeus) mas alguëm terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se condescede com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.

Hannah Arendt descreve o fenômeno totalitário como uma forma de dominação própria da modernidade, baseada na organização burocrática das massas, no terror e na ideologia. Como exemplos cita os desdobramentos da utopia socialista em suas versões nazista e stalinista. Na raiz do totalitarismo situa o anti-semitismo moderno, manipulado como instrumento de poder, e o imperialismo surgido nos países europeus no século XIX. Nos ensaios sobre as revoluções francesa e americana destaca a importância da ação conjunta como fonte de autoridade. Em Between Past and Future (1961; Entre o passado e o futuro), afirma que a palavra e a ação, para se converterem em política, requerem a existência de um espaço que permita o aparecimento da liberdade.

Arendt regressaria depois à Alemanha e manteria contato com o seu antigo mentor Martin Heidegger, que se encontrava afastado do ensino, depois da libertação da Alemanha, dadas as suas simpatias nazis. Envolver-se-ia, pessoalmente, na reabilitação do filósofo alemão, o que lhe valeria novas críticas das associações judaicas americanas. Do relacionamento secreto entre ambos ao longo de décadas (inclusive no exílio nos Estados Unidos) seria publicado um livro marcante, "Lettres et autres documents", 1925-1975, Hannah Arendt, Martin Heidegger, com edição alemã e tradução francesa da responsabilidade das Editions Gallimard.

PENSAMENTOS DE HANNAH ARENDT

"É na esfera política e pública que realizamos nossa condição humana".

"O mais radical revolucionário tornar-se-á um conservador no dia seguinte à revolução".

"Quem habita este planeta não é o Homem, mas os homens. A pluralidade é a lei da Terra".

"As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista".

"O conservadorismo, no sentido da conservação, faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa"

"A escola não é de modo algum o mundo, nem deve ser tomada como tal; é antes a instituição que se interpõe entre o mundo e o domínio privado do lar"

"A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver"

"A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele"

"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história"

“Há uns que nos falam e não ouvimos; há uns que nos tocam e não sentimos; há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas... há aqueles que simplesmente vivem e nos marcam por toda vida"

"A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir"

NIETZSCHE (1844-1900)

Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um dos principais filósofos do século XIX. Todo o seu pensamento exerceu forte influência sobre a literatura, psicanálise, estética, filosofia, reflexão moral, política e filosofia da religião.

BIOGRAFIA

Friedrich Wilhelm Nietzsche, nasceu em 15 de outubro de 1844, na cidade de Rocken, nas proximidades de Lutzen (Saxônia). Nietzsche inicia sua informação universitária na Universidade de Bonn, em filologia clássica, tendo como professor Friedrich Ritschl. Sofre influências deste professor, tendo início aí sua liberdade de olhar para a realidade, percebendo a seriedade nas coisas do dia-a-dia, distinguindo o real do irreal, adquirindo paciência frente suas buscas na vida. Advém daí também, o aprendizado essencial do estudioso, que é a paixão que o move e o torna íntegro intelectualmente. É indicado por Ritschl para lecionar na Universidade da Basiléia, sem haver concluído seus estudos. Diante desta indicação, Nietzsche recebe o título de Doutor pela Universidade de Lerpzing sem haver realizado exames. Este filósofo participou da Guerra Franco-Prussiana como enfermeiro voluntário (agosto a outubro de 1870). Herda, desta época, uma série de enfermidades que o acompanharão até o final de sua vida. Em 3 de janeiro de 1900 Nietzsche enlouquece e caí pelas ruas de Turim, iniciando aí um momento trágico em sua vida. Foi internado na Basiléia onde foi diagnosticado "paralisia progressiva". Nietzsche passou a assinar "O Crucificado", "Dionísio". Provavelmente de origem sifilítica, a moléstia progrediu até a apatia e agonia. Passou a ser cuidado inicialmente por sua mãe que vem a falecer, e posteriormente por sua irmã. Faleceu em 25 de agosto de 1900, em Weimar.

IDÉIAS

Sua vida foi marcada por episódios de profunda solidão, euforia e depressão. Além de filologia, Nietzsche estudou também filosofia e teologia. Foi leitor de Schiller, Fichte, Holderlin, Byron, Platão, Ésquilo, entre outros. Leu também Dostoievski. Identificava-se com a música do compositor Wagner e sentiu-se atraído pelo ateísmo de Schopenhauer. Criticava Sócrates por considerar sua influência racionalista, "decadente". Acreditava que com Sócrates, a Grécia antiga e a sua força criadora tiveram seu fim. Interpreta as obras de Wagner como o renascimento da grande arte grega, mas muda de opinião ao identificar neste compositor influências pessimistas de Schopenhauer e, assim, rompe com os dois. O conteúdo da filosofia de Nietzsche vem de sua própria contemplação do mundo, combinado com o método filológico e não da leitura e estudo de obras de outros filósofos. Filosofia, para este pensador, é uma questão de máxima seriedade, não sendo concebida como uma aquisição intelectual, e sim como uma visão de como o homem deve viver. A filosofia é capaz de determinar a natureza do mundo experimental e dos padrões relativos a racionalidade, que constituem e regulam a existência humana. Seu pensamento, orienta-se para a investigação empírica da existência humana. Concebe que o homem é estranho a ele mesmo e sua tarefa é de alcançar sua verdadeira existência, não deixando que ela resuma-se à um simples acontecimento insignificante. A filosofia de Nietzsche propõe uma inversão das idéias filosóficas e dos valores morais tradicionais. Procura criar um espaço ilimitado através do levantamento de questões críticas diante do que já está estabelecido. Para ele, não há verdade a respeito das coisas, somente diferentes interpretações possíveis da realidade, e por isso tudo passa a ser possível. Cabe a cada um dos homens interpretar estas sugestões de interpretações. Nietzsche considera o homem do destino como aquele que é capaz de contradizer o que está estabelecido, e através desta atitude acredita ter algo de novo a anunciar: contradiz o positivismo e sua crença no fato; contradiz os idealistas e historicistas; contradiz o espiritualismo e proclama a morte de Deus; contradiz a moral dos escravos e exalta a moral dos aristocratas; etc. A auto-contradição tem um papel importante para ele, pois para cada afirmação que faz, afirma também o seu contrário. Considera que a verdade das coisas está presente nas questões que dirigem-se à elas e não nas afirmações que se possa fazer a respeito delas. Isto aponta sua paixão pela aventura, pela incerteza e pelas coisas que ainda não foram descobertas, identificadas. Nietzsche define o niilismo da seguinte forma: "a conseqüência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia." Através desta definição, Nietzsche usa o niilismo para qualificar sua oposição aos valores morais tradicionais e as tradicionais crenças metafísicas. Disto surge a idéia da "morte de Deus". Para o autor, Deus não passa de uma conjectura, e por assim ser o homem não pode vê-lo, ouvi-lo, etc. O Deus cristão, é para Nietzsche, um Deus que parece diminuir o valor e o significado do homem, desvaloriza o mundo e a vida na Terra em nome de sua própria glória. Este pensador questiona se é possível que haja valores universalmente válidos e uma vida significativa em um mundo sem Deus. Ao final, Nietzsche encontra no homem a fonte de seus próprios valores, sendo ela a medida de todas as coisas, surgindo assim a noção de "super-homem". Este ama a vida, cria o sentido da Terra, pois possuí a vontade de potência. O autor acaba por superar o niilismo ao desligar-se da idéia de que a existência seria uma fonte de sofrimento para o homem, como queria o cristianismo. Através do uso de aforismos e de poemas, Nietzsche trouxe grande contribuição à filosofia moderna. Seu aforismo é a possibilidade de existirem ao mesmo tempo a interpretação de algo e o que está sendo interpretado. O poema é ao mesmo tempo a possibilidade de avaliar algo e a própria coisa a ser avaliada. O autor considera que o filósofo deveria ser possuidor destas duas formas de expressão.

Suas principais obras são: "O Nascimento da Tragédia" (1872); "Considerações Inatuais" (1873-1876); "Humano demasiado Humano" (1878 - refere-se ao rompimento com Wagner e seu distanciamento de Schopenhauer); "Aurora" (1881 - onde aparecem teses fundamentais de seu pensamento); "Gaia Ciência" (1882 - promete um novo destino para a humanidade); "Assim falou Zaratustra" (1883); "Além do Bem e do Mal" (1886); "A Genealogia da Moral" (1887); e em 1888: "O Caso Wagner"; "O Crepúsculo dos Ídolos"; "O Anticristo"; "Ecco Homo"; "Nietzsche contra Wagner" e sua última obra inconclusa "Vontade de Poder".

PENSAMENTOS DE NIETZSCHE

"Se não queres cansar os olhos e os sentidos, segue o sol pela sombra!"

"Não suporto as almas estreitas: não têm nada de bom, tampouco nada de mau."

"Não te enchas de ar: a menor picadela te esvaziaria."

"Não fiques em terreno plano. / Não subas muito alto. / O mais belo olharsobre o mundo / Está a meia altura".

"Como é que se deve subir a encosta? Simplesmente sobe e não penses nisso!"

"Graças à música as paixões encontram gozo em si mesmas."

"Agrado-te, os meus discursos atraem-te, / Queres seguir-me, seguir os meus passos? / Segue-te fielmente a ti mesmo: / Assim me seguirás... com suavidade, com suavidade!"

"Acabamos por amar nosso próprio desejo, em lugar do objeto desejado."

"A mulher aprende a odiar à medida que desaprende a fascinar."

"Não olhe muito tempo pra dentro do abismo, que o abismo começa a olhar dentro de você."

"Desejas predispor alguém a teu favor? Finge-te embaraçado diante dele."

"É à glória que aspiras? / Neste caso consideres esta lição: / Renuncia a tempo e espontaneamente / Á honra!"

"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo."

"É necessária a ferrugem: não basta ser afiado! / Senão dizem sempre de ti:'És muito novo!'"

"Na vingança e no amor a mulher é mais cruel que o homem."

"Falar muito de si mesmo pode ser também um modo de se esconder."

"Sentir piedade de um ser humano, é conduzi-lo a destruição."

"No elogio há muito maior indiscrição que na censura."

"As mesmas paixões no homem e na mulher são diferentes em seu andamento e é por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender."

"A maturidade do homem consiste em ter reencontrado a seriedade que emcriança se colocava nos jogos.""Não a potência, mas a duração de um sentimento elevado forma os homenssuperiores."

"O cristianismo perverteu a Eros, este não morreu, mas degenerou-se,tornou-se um vicio."

"O que é bom? Tudo que eleve no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência."

"Quando a virtude dorme, se levanta mais fresca."

"Só aquele que possui uma fé profunda pode se dar ao luxo do ceticismo."

"Nós precisaríamos ser como os físicos para sermos criativos, uma vez quetodo o código de valores e os ideais existentes até agora foram criados ignorando as leis da Física."

"A potência intelectual de um homem se mede pela dose de humor que ele écapaz de usar."

"Todos os esgotados amaldiçoam o sol; para eles, o valor das árvores está...na sombra!"

"A decisão cristã de considerar o mundo feio e mau transformou o mundo emfeio e mau".

"Com uma voz deveras forte na garganta, somos quase incapazes de pensarcoisas sutis".

"Buda falou: "Não lisonjeies o teu benfeitor". Repetir estas palavras em uma igreja cristã, limpa imediatamente o ar de tudo o que é cristão".

"Áspero e suave, grosseiro e fino, / Familiar e estranho, impuro e puro, /Lugar de encontro dos loucos e dos sábios. / Tudo isso sou, tudo isso quero ser, / Ao mesmo tempo pomba, serpente e porco".

"Falando francamente, por vezes é necessário irritarmo-nos para que ascoisas corram bem".

"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo".

"Viver quer dizer ser cruel e implacável contra tudo o que em nós se tornafraco e velho"

"Mentimos com a boca, mas os gestos denunciam a verdade".

"O mais valoroso dentre todos nós raras vezes tem o valor de afirmar tudo o que sabe".

"Somos muito injustos com Deus. Não Lhe permitimos nem pecar".

"A mulher foi o segundo erro de Deus".

"Quanto mais inteligente a mulher, tanto mais se afasta o homem".

"Não dou esmolas; para isso não sou bastante pobre".

"A felicidade é mulher".

"O que maior punição nos atrai são as nossas virtudes".

"Em geral, as mães, mais que amar os filhos, amam-se nos filhos".

"Nunca odiamos aos que desprezamos. Odiamos aos que nos parecem iguais ou superiores a nós".

"A profissão é a espinha dorsal da vida".

"Há sempre algo de demência no amor. Mas também na demência há algo de razão".

"Não é a força do sentimento elevado, é a sua duração que faz os homens superiores".

"Abençoados os que têm sono, pois não tardarão em dormir".

"Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade".

"Toda virtude tem seus privilégios: por exemplo, o de levar seu próprio feixezinho de lenha para a fogueira do condenado".

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez".

"Não pretendo ser feliz, mas verdadeiro".

"Uma sociedade onde a corrupção se instala é acusada de abandono, de fato o prestígio da guerra e do entusiasmo marcial sofrem baixa visível; aspira-seaos prazeres da existência com tanto ardor quanto aqueles antigamente postoem conquistar honras militares.Mas os observadores talvez tenham negligenciado o fato dessa antiga energia,antiga paixão pela nação, que a guerra e torneios punham em tão pomposaevidência, transformou-se numa infinidade de paixões privadas e limitou-se ase tornar menos visível, que digo eu? É até provável que no estado de 'corrupção' sejam dispendidas uma força, umaviolência energética muito maiores que nunca pela nação e que o indivíduo desperdice essa energia com muito maior prodigalidade do que podia fazer anteriormente, quando não tinha suficiente riqueza! Precisamente nas épocas de 'abandono' é que, portanto, a tragédia corre as ruas e as coisas, que se vê nascer o grande amor, o grande ódio e a chama do acontecimento esbraseia no céu".

"Rir é ser malicioso com boa consciência".

"Entre os ricos a liberdade é uma espécie de timidez".

"Hoje é pobre, mas não porque lhe tenham tirado tudo, sim pela recusa de tudo. Que lhe importa?! Está habituado a encontrar. Os pobres compreendem mal sua voluntária pobreza".

"Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos - sempre maisobscuros, mais vazios, mais simples que estes".

"Quando o reconhecimento de um grande número por um único repele qualquer espécie de pudor, a glória começa a nascer".

"É necessário saber dissimular com as pessoas que têm vergonha de seus sentimentos; concebem um ódio repentino pela pessoa que as apanha emflagrante delito de ternura, de entusiasmo ou de nobreza como se seusantuário secreto tivesse sido violado. Se quereis ser-lhes benéficos nesse momento, fazei-as rir ou tratai de lhessugerir, brincando, alguma fria maldade: seu humor gela e dominam-se".

"Qualquer grande homem possui força retroativa: força a reconsideração da totalidade da história; milhares de segredos do passado saem de seus esconderijos para se iluminarem à sua luz. Ninguém pode prever o que acontecerá a história. Essencialmente, o passado talvez ainda continue por ser explorado! Necessitamos ainda tantas forças retroativas!"

"O amor perdoa mesmo o desejo do ser amado".

"As explicações místicas são consideradas profundas. Na verdade falta-lhes ainda muito para que sejam superficiais".

"Quem possui até o presente a eloquência mais convincente? O rufar do tambor, enquanto os reis o tiverem sob o poder serão os melhores agitadores populares".

"A maneira mais pérfida de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com más razões".

"É um pensador: isto quer dizer que se empenha em tomar as coisas com maior
simplicidade que realmente contém".

"Nenhum vencedor acredita no acaso".

"O que nós fazemos nunca é compreendido, apenas louvado ou condenado".

"Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos, não porvaidade, mas porque o objeto amado não deve sofrer. Sim, aquele que ama desejaria aparecer como um deus, e isto não por vaidade".

"Já dei tudo. Nada me resta de tudo quanto tive, exceto tu, esperança!"

"Eu também quero a volta à natureza. Mas essa volta não significa ir para tráz, e sim para a frente".

"Não existe, na realidade, entre a religião e a ciência nem parentesco, nem amizade, nem inimizade: elas vivem em esferas diferentes".

"A vaidade alheia só nos é antipática quando vai de encontro a nossa".

"Aforismo e sentença são formas eternas. Orgulho-me de dizer em dez palavras o que outros dizem em vários volumes".

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez".

"A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo".

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras"

"É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação".

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte".

"Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!"

"Se uma mulher tem inclinações eruditas é porque, em geral, há algo de errado na sua sexualidade. A esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; é que o homem, com vossa licença, é de fato «o animal estéril»".

"Os grandes intelectuais são céticos".

"A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia".

"O homem é definido como um ser que evolui, como o animal imaturo por excelência".

"O ser refutável não é o menor dos encantos de uma teoria".

"Certos pavões escondem de todos os olhos a sua cauda - chamando a isso o seu orgulho".

"A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade".

"Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados".

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal".

"A vontade se superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos".

"Temos a arte para não morrer da verdade".

"Torna-te aquilo que és".

"A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade".

"Os homens graves e melancólicos ficam mais leves graças ao que torna os outros pesados, o ódio e o amor, e assim surgem de vez em quando à sua superfície".

"No matrimónio existem apenas obrigações e alguns direitos".

"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo".

"Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez - a si próprio?"

"É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado".

PLATÃO (427-347 a.C.)

Nascido em Atenas, em 427 a.C., Platão pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de ombros largos”.

Platão foi discípulo de Sócrates, a quem considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens”. Depois da morte de seu mestre, empreendeu inúmeras viagens, num período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas. Em 388 visitou a Sicília, então governada por Dionísio, o Antigo, com o propósito de converter este tirano às suas ideias filosóficas. Não tendo êxito nesta primeira investida, regressou a Atenas, em 387 a.C., onde nos jardins de Academo, junto dum templo consagrado às Musas fundou uma escola, denominada, por este fato, Academia.

Ficou em Atenas, cerca de vinte anos, até que em 367, voltou à Sicília, com a idéia de converter o novo monarca - Dionísio, o Moço -, num filósofo-rei. Os resultados não foram brilhantes, o que não o impediu de voltar à ilha em 361, com idênticos propósitos. O resultado desta última viagem foi terrível: suspeito pelas suas ideias políticas, foi perseguido e feito escravo, sendo como tal vendido no mercado de Egina, acabando por ser comprado por um dos seus amigos. Voltou a Atenas onde morreu em 347 a.C., numa altura que a cidade lutava contra Filipe da Macedónia.

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por Platão. Seriam 30 diálogos, dentre os quais os mais conhecidos; Apologia de Sócrates (onde torna público o discurso que Sócrates fez em seu julgamento); Híppias Maior (diálogo sobre - o que é o belo); Eutifron (diálogo sobre - o que é a piedade); Menon (diálogo sobre - o que é a virtude), Teeto (diálogo sobre - o que é a ciência); Fédon (sobre a imortalidade da alma, faz um relato dos últimos dias de Sócrates), Crátilo (explica a relação entre as coisas e os nomes que lhes são dados.), O Banquete (diálogo sobre o amor), Górgias (diálogo sobre a violência, faz a diferença entre a filosofia e a sofística), e o mais importante, A República (um tratado completo, onde expõe um sistema de governo e modo de vida ideais).

TEORIA DO CONHECIMENTO

Segundo Platão, o conhecimento humano está dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso, errôneo. O conhecimento intelectual se dirige às Idéias; o conhecimento sensível, se dirige às aparências, ou sombras.

Através dos diálogos, Platão vai caracterizando as causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de idéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas, escapando á corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o plano mutável dos objetos físicos.

Platão recusou que se pudesse falar num conhecimento baseado no mundo sensível, pois este apenas nos pode dar opiniões mutáveis e ilusórias. Defendeu por isso que o verdadeiro conhecimento estava nas Idéias eternas que existiam num mundo separado das coisas sensíveis. As coisas sensíveis são imitações das Idéias. Sustentou ainda que todos os seres humanos, em graus variáveis, quando nascem já possuem muitas destas Idéias. Neste sentido, conhecer ou aprender é recordar aquilo que está obscurecido na alma.

Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento humano se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das Idéias e essências.

Se quiséssemos resumir a filosofia de Platão em uma palavra, poderíamos dizer que ela é fundamentalmente um dualismo. Ao admitir a existência de dois mundos: o mundo das Idéias imutáveis, eternas, e o mundo das aparências sensíveis, mutáveis; Platão concebe ao mundo sensível uma certa realidade, mas ele só existe porque participa do mundo das idéias do qual é uma cópia, ou, mais exatamente, uma sombra.

A teoria das Idéias de Platão representa a tentativa de conciliar as duas correntes anteriores: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, das Idéias, da essência e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, das aparências e ilusões.

A METAFÍSICA

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das Idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas.

O divino platônico é representado pelo mundo das Idéias e especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. Assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos.

A ALMA

Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em vista dos seus imperativos interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos. Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.

A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo das Idéias: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascível (ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Assim, para Platão, a alma possui três partes: a racional, a irascível e a concupiscível. Naturalmente a alma irascível e a concupiscível são subordinadas à alma racional.

A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido na visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.

Quanto ao destino das almas depois da morte, eis o pensamento de Platão: em geral, o destino da alma depende da sua filosofia, da razão; em especial, depende da religião, e da teoria da reencarnação, que Platão aceita.

A MORAL

Combatendo o relativismo dos valores, defendido pelos sofistas, sustentou que o único dever do homem é procurar o Bem, que identifica com o Belo e o Uno. Para o atingir, a única via possível passa pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais.

Segundo a psicologia platônica, a natureza do homem é racional, e, por conseqüência, na razão realiza o homem a sua humanidade: a ação racional realiza o sumo bem, que é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. Entretanto, esta natureza racional do homem encontra no corpo não um instrumento, mas um obstáculo.

Platão deriva a sua moral da sua teoria das três partes da alma. Assim, para que se realize a sabedoria, a contemplação, a filosofia, a virtude suma, a única virtude verdadeiramente humana e racional, é necessário que a alma racional domine, antes de tudo, a alma concupiscível, derivando daí a virtude da temperança; e domine também a alma irascível, donde a virtude da fortaleza. A harmoniosa distribuição da atividade na alma conforme a razão constituiria, pois, a justiça. Temos, deste modo, uma classificação, uma dedução das famosas quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais - prudência, fortaleza, temperança, justiça - sobre a base da teoria platônica da alma.

COSMOLOGIA

O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos homens, etc.

Para a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.

O MITO DA CAVERNA

Na obra República, Platão revelou o que está em jogo no conhecimento na alegoria da caverna, onde ele mostra a idéia de que conhecer consiste em se liberar das correntes que nos condenam à ignorância e onde ele desvenda que, em última análise, o problema do conhecimento se confunde com o da educação. O homem deve caminhar desde a opinião até à ciência educando-se gradualmente. No mundo sensível, os homens são como escravos presos numa caverna escura e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora. Tomam estas sombras pela realidade, porque não conhecem a realidade verdadeira. De fato, trata-se de operar a passagem do mundo sensível ao mundo inteligível, e esse movimento é um doloroso e difícil movimento de libertação.

Segundo Platão faz parte da educação do filósofo o regresso à caverna, que consiste na reconsideração e na reavaliação do mundo humano à luz do que se viu fora deste mundo. Depois de sair da prisão e da ignorância da caverna, o filósofo, que contemplou o sol e a luz da verdade, deve voltar à caverna, livre e disposto a iluminar e ensinar aos homens o que ele viu e aprendeu.

A POLÍTICA

Na visão platônica a sociedade perfeita seria aquela em que cada classe e cada unidade estivesse fazendo o trabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em que nenhuma classe ou indivíduo iria interferir nos outros, mas todos iriam cooperar na diferença para produzir um todo harmonioso. Este seria um Estado justo.

O fim do Estado é tornar o indivíduo feliz, facilitando-lhe a prática das virtudes. Sua constituição é vazada nos moldes da natureza humana. Platão faz uma analogia entre as três partes da alma: a irascível, a concupiscível e a racional com as três classes sociais. Correspondentes às três partes da alma distinguem-se no Estado três classes sociais: os filósofos (alma racional), os guerreiros (alma irascível); c) os operários (alma concupiscível).

Segundo Platão, o estado ideal deveria ser dividido nestas três classes sociais. Três são, pois, estas classes: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos operários, as quais, no organismo do estado, corresponderiam respectivamente às almas racional, irascível e concupiscível no organismo humano, e às quatro virtudes, prudência, fortaleza, temperança e justiça. À classe dos filósofos cabe dirigir a república; eles exercem a virtude da prudência. À classe dos guerreiros cabe a defesa interna e externa do estado, de conformidade com a ordem estabelecida pelos filósofos; eles exercem a fortaleza. À classe dos operários, enfim, - agricultores e artesãos - submetida às duas precedentes, cabe a conservação econômica do estado, e, consequentemente, também das outras duas classes, inteiramente entregues à conservação moral e física do estado; eles dever exercitar a temperança. A quarta virtude, a justiça deveria harmonizar e equilibrar todas as três classes num todo organizado.

PENSAMENTOS DE PLATÃO

"Conhecimento é o alimento da alma"

"Não importa o que você sabe, mas o que se lembra na ocasião."

"Amor: uma grave doença mental."

"Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo"

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz".

"O honesto se conforma em sonhar com aquilo que o pecador realiza."

"Não há nada mais vergonhoso do que alguém ser honrado pela fama dos antepassados e não pelo merecimento próprio."

"O corpo humano é a carruagem; eu, o homem que a conduz; o pensamento são as rédeas; os sentimentos, os cavalos."

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."

"Todo homem é poeta quando está apaixonado".

"Se Deus é bom, não pode ser o autor de todas as coisas que acontecem ao homem."

"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida."

"A amizade é uma benevolência reciproca entre dois seres igualmente entusiastas um pela felicidade do outro."

"Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado."

"É somente pela filosofia que se pode discernir todas as formas de justiça política e individual"

"Toda forma de delírio vem da alma e é necessário que o homem saiba amar, tendo conhecimento, ao mesmo tempo, da sua alma e da dos outros homens"

"Mau, com efeito, é o amante vulgar que prefere o corpo ao espírito, pois o seu amor não é duradouro por não se dirigir a um objeto que perdure. A flor do corpo que ama vem um dia a murchar - e então ele "se retira ligeiro como as asas" esquecendo-se das declarações e muitas juras que fêz".

"As almas dos homens, antes de terem caido neste sepulcro que é o corpo, conseguiram vislumbrar - umas mais de perto, outras de maneira menos precisa- a Pureza, a Justiça, a Sabedoria. Decaíram, corromperam-se, encheram-se de vícios ao se ligarem com o corpo. Guardam todavia uma tênue recordação do que antes contemplaram e tendem, sempre, para aquela perfeição que um dia contemplaram".

"O livro é um mestre que fala mas que não responde".

"De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar".

"Quando a mente está pensando, está falando consigo mesma".

"A primeira forma de educação é dada sob forma de fábulas, pois o homem é bastante imperfeito para prescindir das mesmas".

"Do mesmo modo que as coisas visíveis são iluminadas pelo sol, as idéias o são por uma Idéia Suprema".

"O amor não é rico nem pobre. Sua situação é sempre intermediária. Com desejo de felicidade, ele é universal e não é próprio apenas do homem. Seu verdadeiro objeto é a conservação e a reprodução da vida e não apenas davida corpórea mas também da vida intelectual".

"O amor é a causa do movimento da natureza".

"A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento".

"A paz do coração é o paraíso dos homens".

"Só pelo amor o homem se realiza plenamente".

"A filosofia é a mais sublime das músicas".

"Os espíritos vulgares não têm destino".

"A pobreza não nasce da diminuição dos haveres, mas da multiplicação dos desejos".